quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Pós-Temporada 2014 - Super Bowl XLIX - New England Patriots 28 x 24 Seattle Seahawks


Peter Ludwig Berger é um famoso sociólogo, nascido em Viena, Áustria, em 17 de Março de 1929; que aos 17 anos de idade emigrou para os Estados Unidos – como tantos outros indivíduos de origem judaica (fugindo da perseguição nazista em sua terra natal).

Fez carreira acadêmica lecionando nas Universidades de Nova York, Georgia, Carolina do Norte, Boston, Notre Dame, Genebra e Munique; e escreveu muitas obras – dentre elas a mais famosa: “A Construção Social da Realidade: Tratado de Sociologia do Conhecimento” (em parceria com Thomas Luckmann, em 1966).

Sua maior dedicação científica, no entanto, aparece no campo da “sociologia da religião”. Define-se como um “teólogo laico” – condição que impregna sua obra, na qual, além disso, aparecem relevantes textos no campo da teoria sociológica e a sociologia política, a globalização e o desenvolvimento, etc.

Em 1963, escreveu “Invitation to Sociology: A Humanistic Perspective” (algo como: “Introdução à Sociologia: Sob a Perspectiva Humanística”). Neste livro, um de seus capítulos recebeu um título estranho: “Como trapacear e manter-se ético ao mesmo tempo”. Para explicar a teoria, ele criou uma fábula interessante:


Em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos havia uma Igreja Batista. Os batistas, como se sabe, são um ramo do cristianismo muito rigoroso em seus princípios éticos. Nesta mesma cidade, havia também uma Fábrica de Cerveja – que para a Igreja Batista, representava a vanguarda de Satanás. Em cada culto, o pastor pregava todos os malefícios que o álcool causava à sociedade – responsabilizando a Fábrica pela corrupção, prostituição e destruição da instituição “família”.

Entretanto, por razões pouco esclarecidas, a Fábrica de Cerveja fez uma doação de US$ 150 mil para a Igreja...

O caso veio à tona, causando grande tumulto na cidade!

Os membros mais ortodoxos da Igreja foram unânimes em denunciar aquela quantia como “dinheiro do Diabo” e que não poderia ser aceito de forma nenhuma!

Mas passada a exaltação dos primeiros dias, acalmados os ânimos, os mais ponderados começaram a analisar os benefícios que aquele dinheiro poderia trazer: uma pintura nova para a Igreja; um órgão de tubos; reforma dos jardins; um novo salão social para festas religiosas etc.

O clero convocou seus fieis para uma assembléia, onde chegou-se à seguinte decisão democrática:

“A Igreja Batista Bethel resolve aceitar a oferta de US$ 150 mil feita pela Cervejaria, na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro vai ser usado para a glória de Deus”.


Sim, eu sei que parece um discurso feito em Brasília...

Mas juro que foi escrita por um Austro-Americano!

Outro exemplo desta relativização da ética é a famosa “Lei de Gérson”...


Macunaíma, o herói sem nenhum caráter criado por Mário de Andrade, surge exatamente da necessidade de uma nova definição do que era “ser brasileiro” – tema pulsante na década de 1920, quando os imigrantes contribuíam para um novo perfil de nação. A convicção era de que a mão-de-obra importada era muito melhor do que a nacional. Alguns estudiosos defendiam que dos escravos negros havíamos herdado o horror ao trabalho e dos índios um talento especial para a preguiça. É desse cenário que surge a compreensão da força da malandragem – uma espécie de contraponto ao exército de trabalhadores dedicados e produtivos (que primeiro a agricultura e depois a indústria tanto necessitaram para competir no mercado internacional).

Os malandros passaram a fazer parte do imaginário de um país de alma escravista, como uma espécie de resistência ao modelo europeu (cheio de regras). Era astuto, esperto e vivia de “expediente” (como se dizia na época); e, mais do que tudo, sabia dar um “jeitinho” em tudo. Ganhava dinheiro fora das formas oficiais (jogando bilhar, apostando em cavalos e, em alguns casos, praticando golpes).


Com o passar dos anos, o malandro despencou cada vez mais para a criminalidade – mas o folclore do “jeitinho” já havia marcado definitivamente o caráter nacional. Sua expressão mais agressiva aconteceu em meados da década de 1970. Era um momento em que se pensava o nacionalismo em parâmetros bem diferentes da década de 1920. Havia um orgulho verde-amarelo e uma megalomania alimentada pela Ditadura Militar.


Gérson de Oliveira Nunes foi um dos melhores meio-campistas de toda a história do futebol brasileiro (inclusive com participação fundamental na conquista da Copa do Mundo de 1970, no México). No entanto, seu maior legado é a construção do enunciado de uma das poucas leis regiamente respeitadas no Brasil.

Em 1976, Gérson foi convidado para ser o “garoto-propaganda” do Cigarro Vila Rica. Neste comercial, o ex-jogador anunciava as vantagens do produto:

- É difícil dizer por que se gosta de fumar um bom cigarro, certo? Eu gosto de Vila Rica porque ele é gostoso, suave e não irrita a garganta... Para quê pagar mais caro, se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro?

Em seguida, com um sorriso maroto, olhar penetrante e sotaque de “malandro carioca”, o atleta concluía:

- Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também!




Embora a propaganda não tenha tido uma interpretação pejorativa na época (pois captou um elemento de identificação que estava no imaginário popular); a chamada “Lei de Gérson” funcionou como mais um elemento na definição da identidade nacional – e o símbolo mais explícito da nossa ética.

Na verdade, da nossa falta de ética...

Esse mote está estampado na sociedade e, muitas vezes, odiamos quando esse comportamento é explícito. Levar vantagem em tudo se tornou tão comum que ser íntegro é sinônimo de ser conservador. Todo cidadão sonha com uma vida melhor, com uma condição de vida que possa criar seus filhos num ambiente mais digno. E também espera que seu time do coração conquiste vitórias e títulos nos campeonatos que disputa.

Mas nem sempre o caminho escolhido é o correto...

Alguns preferem burlar a Lei e as regras do jogo para alcançar seus objetivos. Diante dos sinais de barbárie na política – onde assistimos diariamente nos telejornais nossas autoridades usando o poder para conseguir vantagens (muitas vezes desviando o dinheiro público para suas contas privadas); contando com a impunidade dos órgãos de controle; resta a sensação de subornar guardas de trânsito para evitar multas; furar-filas; consumir produtos dentro do supermercado e não pagar por eles; encontrar aparelhos celulares ou carteiras nas ruas e não devolvê-las a seus donos; trapacear turistas e outras “benesses” são práticas comuns e aceitáveis no dia-a-dia...

Raul Seixas, como sempre, desnudou a alma destas pessoas:




Cambalache:

Que o mundo foi e será uma porcaria eu já sei
Em 506 e em 2000 também...
Que sempre houve ladrões, maquiavélicos e safados
Contentes e frustrados, valores, confusão
Mas que o século XX é uma praga de maldade e lixo
Já não há quem negue
Vivemos atolados na lameira
E no mesmo lodo todos manuseados
Hoje em dia dá no mesmo ser direito que traidor
Ignorante, sábio, besta, pretensioso, afanador
Tudo é igual, nada é melhor
É o mesmo um burro que um bom professor
Sem diferir, é sim senhor
Tanto no norte ou como no sul
Se um vive na impostura e outro afana em sua ambição
Dá no mesmo que seja padre, carvoeiro, rei de paus
Cara dura ou senador
Que falta de respeito, que afronta pra razão
Qualquer um é senhor, qualquer um é ladrão
Misturam-se Beethoven, Ringo Star e Napoleão
Pio IX e d. João, John Lennon e San Martin
Como igual na frente da vitrine
Esses bagunceiros se misturam à vida
Feridos por um sabre já sem ponta
Por chorar a Bíblia junto ao aquecedor

Século XX "cambalache", problemático e febril
O que não chora não mama
Quem não rouba é um imbecil
Já não dá mais, força que dá
Que lá no inferno nos vamos encontrar
Não penses mais, senta-te ao lado
Que a ninguém mais importa se nasceste honrado

Se é o mesmo que trabalha noite e dia como um boi
Se é o que vive na fartura, se é o que mata, se é o
Que cura
Ou mesmo fora-da-lei


No esporte, claro que também não faltam exemplos destas condutas! Nem todos os atletas estão imbuídos do ideal olímpico do Barão Pierre de Coubertin (“O importante não é vencer – mas competir com dignidade”). Desde os Jogos Olímpicos de 1904 (quando Fred Lorz venceu a maratona, mas perdeu a medalha de ouro, porque descobriram que ele percorreu 10 km do percurso em um carro) até o suposto caso de doping de Anderson Silva em seu retorno ao UFC; existem centenas de milhares de exemplos de trapaças: como “La Mano de Dios” de Maradona na Copa do Mundo de 1986; a lâmina nas luvas do goleiro Roberto Rojas – que quase eliminou o Brasil da Copa de 1990; os esteroides anabolizantes do canadense Ben Johnson nas Olimpíadas de Seul em 1988; a “incrível história de superação” do ciclista norte-americano Lance Armstrong; as vitórias de Michael Schumacher sobre o Rubens Barrichello na Fórmula 1 etc.


E não pensem que os sete árbitros em campo e o sistema de “desafios” e “revisões eletrônicas” das jogadas adotado na NFL livraram o futebol americano destas trapaças! Muito pelo contrário...


Não há dúvidas de que o New England Patriots é uma das melhores equipes de futebol americano da história – e merecidamente conquistou 17 títulos de Divisão (sendo doze deles nos últimos quatorze anos); 08 títulos da Conferência Americana; e 04 Super Bowl’s – o último deles em 01 de Fevereiro de 2015, em Glendale, Arizona; derrotando o Seattle Seahawks por 28 x 24 no University of Phoenix Stadium.


Mas para chegar ao Super Bowl XLIX, a equipe de Massachusetts (campeã da AFC East e melhor campanha da Conferência Americana em 2014) precisou vencer dois jogos no Gillete Stadium: uma incrível virada, no último Quarto, sobre o Baltimore Ravens (vitória por 35 x 31); e um verdadeiro massacre sobre o Indianapolis Colts por 45 x 07...


E é aí que entra a trapaça...

Em 19 de Janeiro de 2015, um dia após a final da AFC; surgiram boatos de que as bolas utilizadas na final da Conferência Americana estavam “leves demais”. Pela regra, cada time é responsável por 12 bolas durante um jogo. Cada bola deve pesar entre 395 e 425 gramas. Mas conforme anunciado na noite do dia 20, onze das doze bolas sob a responsabilidade dos Patriots estavam com o peso 16% menor que o admitido (em média).

Uma bola mais leve que o permitido seria algo até certo ponto “normal”...

Quatro bolas já seriam motivo para se levantar suspeitas...

Oito bolas seriam indícios de que algo estava errado...

Mas onze bolas? De um único time?


Não acredito que as “bolas murchas” prejudicaram TANTO os Colts (a ponto de influenciarem decisivamente sobre a diferença de 38 pontos no placar final).

Mas é claro que prejudicaram sim!

E deram uma vantagem indevida ao time da casa!

O mesmo aconteceu no confronto entre Corinthians e São Paulo, na noite de 18 de Fevereiro de 2015, pela primeira rodada da fase de grupos da Taça Libertadores da América...


Sou são-paulino e não tenho pudor em reconhecer que (mais uma vez) o Corinthians foi muito superior; mas é inegável que a péssima arbitragem claramente favoreceu a equipe da casa...

Faltas cometidas e não anotadas, discussões com atletas, descontrole emocional tendencioso a prejudicar a equipe visitante... culminando no segundo gol (completamente irregular) do time da Zona Leste da Capital!

Em que pese a declaração do Treinador Muricy Ramalho:

- A arbitragem não teve tanta responsabilidade. Não jogamos bem. Tivemos uma boa posse de bola. É o que nosso time tem. Muita técnica mais pouca profundidade. O lance da reclamação eu vi de longe. Mas se não faz o segundo gol, fica 1 a 0... Produzimos muito pouco. Tem de reconhecer que temos que jogar muito mais. Só esse jogo de bom toque, boa técnica, é muito pouco...


Não podemos relevar tais erros! Considerá-los “normais”! Fechar os olhos para essas tentativas de ludibriar as torcidas e seus adversários, confrontar as regras e tentar quebrá-las! O fato de que a trapaça não influenciou no resultado final das partidas é completamente irrelevante...

Ainda mais quando se tratam de equipes com histórico reincidente!


Não é preciso relembrar todos os episódios em que o Corinthians foi beneficiado por “erros da arbitragem” (pois isto é de conhecimento público e notório à todos os brasileiros que acompanham o futebol da bola redonda); mas muitos fãs da bola oval acompanham o esporte a pouco tempo (menos de cinco temporadas); e podem não saber que em 2007, logo na primeira partida da Temporada Regular, um Assistente Técnico dos Patriots foi flagrado filmando a comunicação entre os Treinadores do New York Jets...


Pelas regras da NFL, é terminantemente proibido que haja qualquer filmagem do corpo técnico adversário – pois isto poderia revelar, por exemplo, os códigos de jogadas utilizados pelos rivais. A Liga agiu rápido: em quatro dias, condenou o Treinador Bill Belichick a pagar uma multa de US$ 500 mil; e a equipe de New England foi punida com multa de US$ 250 mil; além da perda de uma escolha de primeira rodada no Draft de 2008.

Mas nem mesmo a exemplar apuração e punição (algo impensável no futebol brasileiro atual) ajudou a encerrar o escândalo conhecido como “Spygate”. Vieram a tona acusações de que os Patriots se utilizavam destas gravações desde o ano 2000 (quando Bill Belichick assumiu o comando do time). O Treinador declarou à imprensa que não agiu de má-fé – apenas interpretou errado às regras:

- O uso dos nossos vídeos não resultou em nenhum impacto no resultado dos jogos das últimas semanas. Nunca usamos esses vídeos para conseguir uma vantagem competitiva durante os jogos. Parte do meu trabalho é assegurar que seguimos as regras impostas pela Liga. Mas as regras têm interpretações; e minha interpretação foi equivocada...


New England foi obrigado a entregar todos os vídeos e demais documentos que detinham sobre seus adversários; e após análise, foram destruídos pela NFL. Aos poucos, as notícias foram “esfriando” e o caso foi encerrado ao final da Temporada Regular – que por sinal terminou com título dos Patriots na AFC East e na Conferência Americana; mas derrota no Super Bowl XLII para o New York Giants por 17 x 14, neste mesmo University of Phoenix Stadium, em 03 de Fevereiro de 2008...


Quis o destino que o segundo escândalo envolvendo a equipe de Massachusetts antecedesse o Super Bowl XLIX, no mesmo estádio da decisão da Temporada de 2007, exatamente dez anos após o último título (24 x 21, sobre o Philadelphia Eagles, no Super Bowl XXXIX).


Sinceramente?

Não consigo entender os torcedores que "comemoram" conquistas manchadas por trapaças...

Claro que sonho em ver o Presidente Mike Brown levantando o Troféu Vince Lombardi - antes de entregá-lo ao MVP Andy Dalton (como tantas vezes fiz acontecer no Madden 2013); e também espero ver o Rogério Ceni levantando mais uma vez o taça da Libertadores da América; mas realmente não gostaria que os Bengals ou o Tricolor Paulista vencessem esses títulos trapaceando... com a "ajuda" da arbitragem... ou utilizando táticas sujas contra nossos adversários!


Se vencerem, espero que seja por seus próprios méritos!

Exatamente como fizeram os próprios Patriots, em campo, durante o Super Bowl XLIX!

Uma vitória limpa, incontestável e emocionante, conquistada literalmente nos últimos segundos, graças à atuação de um herói improvável...

Mais de 70.000 pessoas lotaram as arquibancadas do belíssimo University of Phoenix Stadium, em Glendale, Arizona - e a maioria absoluta dos torcedores apoiaram o Seattle Seahawks (mesmo sendo a casa de um rival da Divisão Oeste da Conferência Nacional: os Cardinals).


A partida começou com a bola nas mãos de New England; com Tom Brady alternando passes curtos e corridas do Running Back Camisa nº 29 LeGarrette Blount. Mas foi uma campanha curta, onde os Patriots só conseguiram uma Primeira Descida (e nem passaram da linha de 35 jardas do seu campo de defesa). A primeira campanha ofensiva de Seattle foi ainda pior: três corridas do RB Marshawn Lynch e a conquista de oito jardas...


Os Patriots continuavam variando as jogadas de ataque (passes para os Wide Receivers Danny Amendola e Julian Edelman; Tight End's Rob Gronkowski e Michael Hoomanawanui; e até para o RB Shane Vereen; intercalados por corridas de LeGarrette Blount); o que favoreceu a manutenção da posse de bola e o avanço sistemático em direção à End Zone adversária...

Em uma 3ª para 06, na marca de 10 jardas do campo de ataque; Tom Brady arriscou um passe curto para Julian Edelman... mas foi interceptado pelo Defensive Back Jeremy Lane (praticamente em cima da linha da End Zone)! Lane se empolgou com a jogada e não se contentou com o Touchback - preferindo arriscar um retorno... Isto, claro, foi prejudicial à sua equipe; pois só conseguiu conquistar 14 jardas (e ainda deixou o gramado machucado).


Russell Wilson conseguiu sete jardas correndo com a bola. Marshawn Lynch garantiu a Primeira Descida com mais uma corrida de quatro jardas. Mas na última jogada do 1º Quarto, o Quarterback Camisa nº 03 foi derrubado duas jardas atrás da linha de scrimmage...

O 2º Quarto começou com a bola nas mãos de Lynch (corrida de três jardas); e numa 3ª para 09, na linha de 26 do seu campo de defesa; finalmente Wilson arriscou um passe...

Longo...

E incompleto, na direção do WR Bryan Walters...


O ataque explosivo de New England voltou a campo e, logo na primeira jogada, um passe curto de Brady para Danny Amendola rendeu um avanço de 17 jardas. Tom continuou arriscando passes curtos, até que encontrou Julian Edelman - e o Camisa nº 11 invadiu a Red Zone adversária (após um passe de 23 jardas). Blount tentou correr pelo meio da defesa de Seattle (mas só conseguiu uma jarda). O jeito foi arriscar outro passe, desta vez na direção do WR Brandon LaFell...

E a conexão com o Camisa nº 19 deu certo!

New England Patriots 07 x 00 Seattle Seahawks!


Este foi o 50º Passe para Touchdown na Pós-Temporada da carreira de Tom Brady!

Só para ter uma ideia do que isso representa: os Bengals anotaram até hoje 38 Touchdowns na Pós-Temporada (ao longo de sua história de 47 anos - entre 1968 e 2015)...


Seattle sentiu o "duro golpe". Logo na primeira jogada da campanha, Russell Wilson voltou a ser derrubado (desta vez três jardas atrás da linha de scrimmage). Marshawn Lynch conseguiu recuperar cinco jardas; mas na terceira tentativa, o Quarterback terceiro-anista errou a tentativa de passe longo na direção do WR Jermaine Kearse...

New England também sofreu um "three-and-out" (apesar do bom passe de sete jardas para Julian Edelman); e exatamente um minuto depois de ter saído de campo, Russell Wilson e companhia já estavam de volta ao gramado...

Lynch, para variar, continuou sendo a principal opção do ataque (duas corridas, de cinco e quatro jardas, respectivamente). Mas a 3ª para 01 transformou-se em uma 3ª para 06 - graças à "saída falsa" (False Start) cometida pelo TE Luke Willson...

Isto forçou seu xará a arriscar outro passe...


E faltando 05:36 para o intervalo, finalmente os Seahawks conseguiram implantar seu jogo aéreo!

Tudo bem que não foi uma "jogada memorável e inesquecível" (apenas um passe de seis jardas recebido por Jermaine Kearse); mas ajudou a aumentar a confiança de Russell Wilson! Tanto é que, uma jogada depois (corrida de cinco jardas de Lynch); o Camisa nº 03 lançou um míssil na direção do WR novato Chris Matthews... e o calouro conseguiu a recepção de 44 jardas (posicionando sua equipe na marca de 11 do campo de ataque)!


Daí em diante, a estratégia era óbvia: bola nas mãos do RB Camisa nº 24...

Marshawn Lynch acionou o "Beast Mode" e, três corridas depois, empatou a partida!

New England Patriots 07 x 07 Seattle Seahawks!


Este empate, faltando 02:16 para acabar o 1º Tempo, incendiou a partida!

Tom Brady transformou-se numa "metralhadora de passes"; e só precisou de 01:45 para andar 80 jardas - concluindo a campanha relâmpago com um passe de 22 jardas para Rob Gronkowski!

New England Patriots 14 x 07 Seattle Seahawks!


Mas Russell Wilson foi ainda mais rápido - e só precisou de 31 segundos para percorrer as mesmas 80 jardas! O Quarterback de Seattle mostrou qualidade correndo com a bola (conquistou 17 jardas); nos passes (acertou um lançamento de 23 jardas para Ricardo Lockette); e ainda contou com a sorte - o DB Kyle Arrington segurou a grade do capacete de Lockette (Face Mask); obrigando os Patriots a recuarem mais 15 jardas...

Faltando seis segundos para o intervalo e precisando avançar 11 jardas para anotar um TD; qualquer equipe arriscaria um chute de Field Goal. Afinal, "mais vale três pontos na mão do que sete voando..."


Mas o Treinador Pete Carroll, conhecido por sua ousadia (alguns diriam irresponsabilidade); ordenou que Russell Wilson arriscasse um passe na End Zone...

Mais uma vez o calouro Chris Matthews agarrou a bola e os Seahawks empataram a partida!

New England Patriots 14 x 14 Seattle Seahawks!


Hora dos brutamontes irem para os vestiários...

E a bela cantora Kate Perry exibir seus dotes... artísticos, por assim dizer!


Gostem ou não, ela é a maior estrela da música pop internacional da atualidade (única artista a emplacar seis músicas de um único disco no topo do ranking da Billboard) - e o show mostrou isso! Nem mesmo a presença de Lenny Kravitz ou da rapper Missy Elliot foram capazes de tirar o foco de Katy; que fez um show correto, cheio de cores e animaizinhos simpáticos (como o gigantesco leão e os hilários tubarões); com músicas animadas e um final impactante...


Pode não ter sido uma apresentação histórica (como a de Michael Jackson em 1993); e aposto que todos os rapazes terminaram frustrados - pois esperavam uma "reprise" do "Nipplegate" de 2004 (quando Justin Timberlake puxou um pedaço do sutiã de Janet Jackson, revelando seu seio direito, enfeitado com um enorme piercing em formato de sol); mas definitivamente foi divertido - inclusive superando suas famosas antecessoras (Madonna em 2012 e Beyoncé em 2013)!


Após a pausa, o ataque de Seattle voltou ainda melhor - e logo na primeira campanha ofensiva conseguiu a virada no placar (graças às quatro corridas de Marshawn Lynch e ao segundo passe longo agarrado pelo novato Chris Matthews - desta vez de 45 jardas)! Mas apesar de terem caminhado mais de 70 jardas; faltaram oito para o Touchdown...

Desta vez, o Treinador Pete Carroll foi conservador: contentou-se com um Field Goal curto (27 jardas) convertido sem dificuldades pelo Kicker Steven Hauschka...

New England Patriots 14 x 17 Seattle Seahawks!


Os Patriots tentaram manter a calma e continuar variando as jogadas ofensivas, alternando corridas e passes curtos para diversos alvos... mas numa 3ª para 09, na linha de 32 jardas do seu campo de defesa, o Linebacker dos Seahawks Bobby Wagner estava atento e conseguiu interceptar o passe de Tom Brady para Rob Gronkowski!

Tudo parecia indicar outra derrota de New England...

Seria a quinta em oito Super Bowls - igualando o "recorde" do Denver Broncos...


E o estádio (claramente apoiando os Seahawks) foi à loucura quando, após cinco jogadas (três corridas de Marshawn Lynch, uma corrida de Russell Wilson e um passe para Chris Matthews); o Wide Receiver Doug Baldwin fez a sua única recepção da noite: passe de três jardas para Touchdown!

New England Patriots 14 x 24 Seattle Seahawks!


A alegria foi tão grande que o atleta foi punido por "conduta anti-desportiva" (Unsportsmanlike Conduct) durante a comemoração...

Mas isso não importava para a Legion of Boom (fanática torcida dos Seahawks que literalmente já causou um terremoto); próxima de comemorar seu segundo título consecutivo na NFL!


Após este Touchdown, o jogo perdeu vibração e intensidade...

As duas defesas superaram os ataques; e a posse de bola entre as equipes se alternava rapidamente no final do 3º Quarto e início do 4º Quarto...

Tudo mudou em uma 3ª para 14, faltando 10:58 para acabar o jogo, quando Tom Brady arriscou um passe longo e Julian Edelman conseguiu uma recepção de 21 jardas - tirando a equipe de New England do buraco e recolocando os Patriots na partida!


Edelman faria mais uma recepção de 21 jardas nesta campanha; e Seattle acabou penalizada em 15 jardas (graças à Unnecessary Roughness praticada pelo experiente DB Earl Thomas); mas quem fechou com chave de ouro foi Danny Amendola - recebendo passe de 04 jardas para TD!

New England Patriots 21 x 24 Seattle Seahawks!


Os Seahawks sentiram a pressão. Russell Wilson errou um passe longo na direção de Ricardo Lockette; e Marshawn Lynch só conseguiu cinco jardas correndo com a bola. Na terceira tentativa, o Running Back movido à Skittles (confeitos de açúcar com sabor de frutas, parecidos com os M&M's, mas sem chocolate) não conseguiu agarrar o passe curto em sua direção; obrigando o Punter Jon Ryan a devolver a bola para New England (menos de um minuto depois do último TD)...

A sorte dos Patriots realmente estava mudando...

E após 10 jogadas (nove passes certos de Tom Brady e uma corrida de sete jardas de Shane Vereen); o Wide Receiver Camisa nº 11 Julian Edelman recebeu um passe de três jardas e invadiu a End Zone do Seattle Seahawks pela quarta vez na partida!

New England Patriots 28 x 24 Seattle Seahawks!


Faltando 02:02 para o fim do jogo, só um milagre salvaria a equipe do Estado de Washington...

E dois milagres aconteceram!

Primeiro foi o passe de 31 jardas recebido por Marshawn Lynch!

Depois a incrível, acrobática e inacreditável recepção de 33 jardas de Jermaine Kearse; posicionando os Seahawks em uma 1ª para o Gol na linha de 05 do campo de ataque!


Lynch tratou de melhorar ainda mais essa posição de campo - conseguindo quatro jardas...

Agora vem um dos lances mais bisonhos da história do futebol americano...

Imagine, caro leitor, que você é o Treinador de uma equipe que está no Super Bowl. Essa equipe está perdendo por uma diferença de quatro pontos, faltando 26 segundos para acabar o jogo. Mas o seu time está em uma 2ª para o Gol, na linha de 01 jarda do campo de ataque. Ah, e você tem no seu elenco um dos melhores Running Backs da NFL - terminou a Temporada Regular com 280 corridas para 1.306 jardas (média de 4,7 jardas por corrida); e anotou 13 TD's. Se considerarmos apenas os números dele no Super Bowl, foram 24 recepções para 102 jardas e 01 TD...

O que você faria nesta situação, meu amigo?


Eu, pelo menos, mandaria minha linha ofensiva para cima da defesa adversária; e entregaria a bola para esse Running Back sem pensar duas vezes...

Mas como a defesa também sabe que eu tentaria isso; deixaria meu Quarterback de sobreaviso - e havendo a menor possibilidade de correr com a bola... poderia enganá-los e garantir seu título de MVP!

- Mas, Raphael... você só tem 26 segundos! Se a corrida falhar, você não terá outra chance de parar o cronômetro e irá perder o jogo...

Sinto por omitir essa informação, caro leitor! Corrigindo: você ainda pode pedir um Tempo!

- Ah, agora eu concordo que correr é a melhor opção mesmo...

Pois é...

Pena que o Treinador Pete Carroll não concorda conosco...


Russell Wilson recebeu a bola e, ao invés de entregá-la à Marshawn Lynch... preferiu arriscar um passe curto para Ricardo Lockette!

Se tudo tivesse dado certo, seria um Touchdown do título, coroando um Treinador experiente e um Quarterback ainda novato (três anos na NFL); cujas decisões arriscadas são simplesmente bestiais!

Se tudo tivesse dado errado, seria um passe incompleto; travando o cronômetro e ainda possibilitando duas jogadas para tentar a virada no placar do modo "tradicional"...

Mas sempre existe o risco da chamada "falha crítica"...


Aquela que supera a falha comum... e causa danos irreparáveis!

Malcolm Butler, calouro não-draftado da Universidade de West Alabama; com apenas 24 anos de idade; conseguiu sua primeira interceptação da carreira profissional!


Uma confusão generalizada se seguiu ao lance, mas as Zebras conseguiram acalmar os ânimos...

Tom Brady só precisou ajoelhar duas vezes e garantir o quarto título da carreira - exatamente dez anos após a última conquista!

O Camisa nº 12 de New England igualou a marca do lendário Joe Montana (quatro anéis de campeão e três vezes MVP no Grande Jogo); e tornou-se o único Quarterback com 11 passes para Touchdown no Super Bowl (quatro deles neste último jogo) - superando os números do próprio Montana!


Após a partida, Tom Brady extravasou:

- Vocês sabem... Fizemos o que precisava ser feito! Evidentemente não foi uma campanha tranquila... Muitas pessoas duvidaram da nossa capacidade... Mas o grupo se manteve unido e conseguimos realizar grandes feitos! A alegria é imensa! Sei que não foi do jeito que queríamos... Foi preciso superar nossos limites, físicos e mentais, e só conseguimos alcançar o título porque em momento algum questionamos a nossa própria capacidade! A chave dessa conquista foi o fato de que nosso grupo se manteve equilibrado e coeso durante toda a temporada...


Julian Edelman, autor do Touchdown da virada; explicou em poucas palavras como a equipe conseguiu virar o placar - revertendo uma desvantagem de 10 pontos, no último Quarto, contra a melhor defesa da NFL:

- Simples: nós temos Tom Brady! O melhor Quarterback do planeta!


Ok, eu discordo da opinião do Camisa nº 11 de New England...

Mas é inegável que ele é, de fato, um dos melhores de todos os tempos!

Se bem a conquista deste título só veio porque um ilustre desconhecido, usando a Camisa nº 21 dos Patriots, estava no lugar certo, na hora exata! Tom Brady reconheceu:

- Eu disse a ele: 'Malcolm... que jogada você fez!' Quero dizer... para um novato, decidir um jogo como este, é algo inacreditável!


Butler, humilde, parecia perdido com tantas câmeras e microfones ao seu redor:

- Eu estava muito contente de estar no elenco que disputaria o Grande Jogo! Esperei ansiosamente pela chance de entrar em campo, nem que fosse só por algumas jogadas... Mas fui abençoado! Nem consigo explicar o que estou sentindo agora! É uma loucura!


O curioso é que segundos antes, Malcolm Butler foi acusado de falhar na marcação de Jermaine Kearse (durante a milagrosa recepção que posicionou os Seahawks "na cara do gol"). Mas o garoto obteve uma inacreditável redenção, ao roubar a bola no momento decisivo...

Como prêmio pela jogada, Tom Brady doou ao jovem a linda Chevrolet Colorado (picape vermelha, cabine dupla, quatro portas, estimada em US$ 20.000,00 (cerca de R$ 56.000,00); recebida pelo milionário Quarterback como um bônus dos patrocinadores do evento...


Apesar das inquestionáveis conquistas em campo, as trapaças realizadas fora dele ainda prejudicam o reconhecimento do talento de Brady pelas lendas desse esporte...

É o caso de Charles Haley (ex-Linebacker e Defensive End com passagens pelo San Francisco 49ers e Dallas Cowboys - eleito para o Hall of Fame em 2011); conhecido como único atleta a vencer cinco vezes o Super Bowl (XXIII, XXIV, XXVII, XXVIII e XXX). Perguntado sobre quem era melhor (Tom Brady ou Joe Montana), Haley nem titubeou na resposta:

- Joe não precisava trapacer... Perdi todo o respeito por Brady. Quando sua integridade no esporte é desafiada, todos os seus Super Bowls ficam podres... Claro que a culpa pelas bolas murchas ou pelas filmagens ilegais não é dele, mas quem quer uma sombra dessas no currículo? Acho que elas ainda irão assombrar Tom... Todo mundo fala sobre isso, ninguém acredita que foi só um acidente... Não vou tirar nenhum anel de Super Bowl dele, mas é triste que eles sejam podres como são agora... Espero que alguém venha e esclareça o que, de fato aconteceu... Só aí o mistério terá ido embora...


Não sou tão radical quanto o lendário Haley... mas não tiro sua razão sobre isso!

Como repeti várias vezes ao longo do texto: adoraria que os Bengals se espelhassem na dinastia criada pelo New England Patriots nestas últimas duas décadas e alcançasse uma hegemonia absoluta na AFC North (exatamente como a equipe de Massachussetts alcançou na AFC East); mas espero que sigam pelo caminho da honestidade absoluta!

O trabalho do Treinador Bill Belichick é louvável em sua "obsessão" por estudar os adversários...


Veja a própria decisão do Super Bowl deste ano: os Patriots conheciam a excelente defesa dos Seahawks (especialmente sua linha secundária); e por isso focaram nos passes curtos e rápidos (tanto é que o passe mais longo de Tom Brady foi de apenas 23 jardas)!

Além disso, as principais estrelas da equipe souberam jogar "sob pressão"...

Tom Brady conseguiu virar o placar no último Quarto, acertando 13 de 15 passes! Rob Gronkowski fez duas recepções para 33 jardas na "campanha da virada"! Julian Edelman fez quatro de suas onze recepções no 4º Quarto (conquistando 54 jardas e anotando o último TD do jogo); e os defensores Vince Wilfork, Rob Ninkovich e Dont'a Hightower também fizeram grandes jogadas - parando o ataque de Seattle nos minutos finais...

E mais: é preciso que os jogadores cheguem inteiros à Pós-Temporada!

Vocês conseguem imaginar o título dos Patriots, se Brady não pudesse contar com Gronkowski e Edelman? Pois Andy Dalton não contou com A.J. Green e Jermaine Gresham na partida contra o Indianapolis Colts...

Em suma: a melhor lição que podemos tirar desta conquista foi: "Faça o seu trabalho..."

Afinal, o Super Bowl 50 é logo ali...